sábado, 23 de janeiro de 2016

Infinito particular



Quase dois anos sem saber o que é ouvir o som de um disco de vinil em casa - descoberta essa que fiz quando ganhei do meu primo museólogo minha primeira eletrola, em 2005, juntamente com o apaixonante disco "My Romance" do saxofonista Ben Webster. Posso dizer que foi um dos presentes mais especiais (e autênticos, como o próprio Wilson) que já recebi, de 1972 e com "validade eterna".

Ao longo de mais de uma década, fiz descobertas incríveis enfiada em sebos, e devo ter gastado pelo menos uns 20% do meu salário de estagiária da época em vinis e livros antigos, principalmente nas lojas do Centro Histórico de Salvador. Foram belos achados, pechinchas, um prazer que parece ser principalmente o da caça incansável pelo passado inédito (para mim) e pela altíssima qualidade musical fruto da relação física da agulha riscando o LP. 

A história que mais gosto é do disco que o atendente deixou levar de cortesia e se tornou um dos meus preferidos (" Midnight Rapsody", por Joe Bushkin e sua orquestra).  Escolhi somente pela capa e texto, que falava sobre o Jazz tocado em formação clássica. Ele pareceu não curtir escolha, mas já tinha prometido. Para minha surpresa em casa: uma sofisticada melodia com ares oníricos de cinema!

Foi quando uma vez no extinto orkut mencionei sobre meu mimo e uma mulher disse que há anos seu pai buscava este disco que marcou uma fase importante da sua vida, sem sucesso. Resultado: transformei em cópia digital e repassei os áudios para ela, juntamente com fotos da capa e contrapa, que gravou em uma mídia e deu de presente  a ele. Realizado, fez questão de escrever um email de agradecimento (e pagar pela cópia,rs), se dispondo a me receber quando fosse à São Paulo. Foi ali que entendi o poder da música em unir pessoas totalmente distintas,de todos os cantos, pelas suas paixões.

Hoje já devem ser mais de 60 bolachões, cada um com sua história de como entrou na minha vida e mexeu comigo. E com os outros, aos quais apresentava minhas descobertas, principalmente desse universo complexo do Jazz e a nossa rica MPB. Talvez alguns destes artistas nem existam mais, mas o que importa foram o efeito que tiveram na minha formação musical.
"Instinto" natural, para quem começou a ouvir música ainda na barriga da mãe. 

Alguns discos foram comprados e ainda não estreados, pois a sonata da Philiphs resolveu dar adeus. Sim, um dia as coisas que amamos também possuem seu prazo de validade. Será muito bom retomar esse ritual com "novidade". Hoje trago para meu mundo particular outra peça, uma virola/maleta azul da Crosley - já valiosa sentimentalmente - que, além de linda, espero marcar mais muitos bons momentos.

Não sei se continuarei com o costume de alguns anos de adquirir muitas coisas, até mesmo pela falta de espaço e a filosofia minimalista, que abraço cada vez mais. Talvez leve alguns LPs pra bazares ou mesmo troque/venda.

 Mas o interessante é que, após todos esses anos, hoje vivo com a clareza de estar cercada apenas daquilo que realmente me inspira felicidade.


PS: Muito obrigada, Gio, por viabilizar e compartilhar esse sonho não urgente, mas revitalizante. No fundo, eu precisava.

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